Ramon Bezerra - Arquiteto e Urbanista
No inicio do mês foi divulgado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN) o resultado do Novo PAC Seleções que contemplou mais de 100 projetos de preservação
do Patrimônio Cultural Brasileiro. Extremoz foi um dos selecionados. Noticia
completa disponível no link: https://www.gov.br/iphan/pt-br/assuntos/noticias/novo-pac-selecoes-contempla-105-projetos-de-restauracao-do-patrimonio-cultural-do-brasil
Para concorrerem, os
projetos deviam comprovar a relevância, o impacto e a viabilidade técnica para
a preservação, promoção e valorização do Patrimônio Cultural. O objetivo foi
atender projetos de todo o País, que procurem promover o desenvolvimento
cultural e permitam a apropriação dos espaços pela população.
Para compreender melhor o
que tudo isso significa e entender as próximas etapas que devem ser seguidas,
assim como algumas questões de caráter mais técnico e burocrático, conversamos
com o arquiteto e urbanista, Ramon Bezerra, autor do projeto selecionado, e que
gentilmente conversou conosco e explicou de forma didática e bastante detalhada
todo o processo.
Ramon, Atualmente é pesquisador pelo programa de pós-graduação
em arquitetura e urbanismo da UFRN. Inicialmente, explicou que o projeto apresentado
ao IPHAN é fruto do seu trabalho de conclusão de curso junto ao departamento de
arquitetura e urbanismo da Universidade Federal do Semi-Árido (UFERSA), Campus
Pau dos Ferros-RN. O trabalho intitulado Manifesto face a inércia: restauro alusivo das
ruínas da antiga igreja de São Miguel Arcanjo e convento Jesuíta na cidade de
Extremoz/R. Propõe uma intervenção arquitetônica de
restauro alusivo na área arqueológica da antiga igreja de São Miguel Arcanjo e
do convento Jesuíta na cidade de Extremoz/RN. Foi apresentado e aprovado no final do ano de 2022 com
orientação da Professora Dra. Monique Lessa. O trabalho completo está
disponível no link a seguir: https://repositorio.ufersa.edu.br/items/98e0e85c-e8a6-4954-879a-a23476939de7
SUA RELAÇÃO COM EXTREMOZ
Explicou ter uma relação íntima com Extremoz.
Local onde cresceu e guarda grande parte de suas memórias afetivas. Sobre o
interesse em pesquisar o patrimônio histórico, recorda que, ainda jovem, sempre
chamou sua atenção a forma como a história de Extremoz era negligenciada pela própria
cidade. O interesse pela arquitetura veio da influência do seu pai, pedreiro. . “Reproduzindo os esquemas de plantas que ele fazia”.
Disse.
A IDEIA DE TRANSFORMAR O TRABALHO EM PROJETO
PARA O IPHAN
Explicou que após apresentar a trabalho para vários órgãos e autoridades
da cidade como a prefeitura e a igreja matriz houve um interesse em utiliza-lo
como uma proposta de restauro junto aos órgãos de defesa do patrimônio
histórico. O primeiro passo foi solicitar o tombamento das ruínas da igreja e
do convento dos jesuítas em nível federal para aumentar as chances de ocorrer,
de fato, alguma intervenção de caráter arqueológico e arquitetônico. Vale
lembrar que atualmente só existe o tombamento em nível estadual, feito ainda em
1990. (Onde os recursos e as equipes de trabalho são mais limitados). Segue
imagem da proposta de tombamento cadastrada de tombamento em novembro de 2023,
junto ao IPHAN.
Fonte:
Iphan.gov.br
Em seguida, Ramon, explica que surgiu a
oportunidade de submeter a proposta para concorrer ao chamamento público do
IPHAN, no Novo PAC Seleções do
governo federal e o resultado positivo foi motivo de alegria e orgulho pela
trajetória e pelo trabalho realizado.
O
QUE ACONTECE AGORA
Falando, mais especificamente do projeto
executivo, o que aconteceu foi a seleção apenas da primeira etapa. Ou seja, o
que de fato será feita nas Ruínas da antiga igreja vai depender de estudos realizados
por equipe de especialistas multidisciplinar, como arqueólogos, engenheiros, e
outros. Uma vez que se trata de uma tarefa minuciosa e interdisciplinar. No
entanto as possibilidades de intervenção já estão delineadas pela proposta apresentada.
As etapas principais apontadas são:
1 - Avaliação
do potencial Arqueológico (durante a elaboração do
projeto de arquitetura);
2 - Pesquisa Arqueológica (facultativa, a depender
da indicação da
primeira etapa);
3 - A utilização dos vestígios (se serão incorporados
ao projeto ou
não):
Os valores contemplados, referente a
realização da primeira etapa, estão disponíveis na plataforma do Tranferegov.br
de forma pública;
Fonte: Transferegov.br
Sobre um processo de preservação, de acordo com (OLIMPIO, 2020, p. 279) é necessário levantar quatro questões
fundamentais: “Por que preservar?”, “Para quem preservar?”, “O que preservar?”
e “Como preservar?”. Explica. Nessa medida, Ramon destaca que um projeto dessa
magnitude não deve olhar apenas para o aspecto do turismo. Embora seja, sim, um
aspecto importante. Ou seja, “o próprio
monumento carrega uma carga de valores. A população precisa se apropriar desses
valores”. Afirma que “Para além do
turismo devemos fomentar o local, a cultura, a identidade e a educação
patrimonial. É necessário disseminar a história e a cultura da cidade. Mostrar
a riqueza histórica da cidade para o mundo. A educação patrimonial é, sem
dúvida, o primeiro passo para esse fomento da identidade local ou da
significância cultural”. Disse.
Citando,
Giovane
Carbonara, teórico de restauro critico conservativo criativo, linha que se
associa. “A restauração é uma questão de equilíbrio e de medida, é mais escuta
do que fala ou proposição” É necessário entender o que o bem tem a dizer para
podermos intervir e propor algo.
No Projeto intitulado “PROPOSTA
PARA PROTEÇÃO E GESTÃO DAS RUÍNAS DA ANTIGA IGREJA DE SÃO MIGUEL ARCANJO E
CONVENTO JESUÍTA NA CIDADE DE EXTREMOZ/RN”. São feitas considerações importantes
acerca da necessidade, ou não, de uma reconstrução total do bem cultural: “Quando
voltamos para as áreas arqueológicas, sendo definidas como testemunho histórico
do trabalho humano, se torna pertinente que a intervenção reafirme os valores
do bem e auxiliem em sua perpetuação e salvaguarda. Quando conferidas ao
restauro arqueológico, tais ações se mostram vantajosas na incorporação da
apresentação dos vestígios, a fim de facilitar a leitura e compreensão dos
visitantes. Sem haver necessidade de reconstrução.” (FERNANDES, 2023, p. 54)
O documento conclui que não haveria
uma real necessidade de uma reconstrução total do bem cultural, mas intervenções
de caráter pontual. Como esclarece o autor “No entanto, não há razões para
isso, além de que o reconhecimento como patrimônio cultural foi realizado em
seu estado arruinado. Não havendo memória afetiva urgente a ser rememorada ou
indicações técnicas que mencionem a atmosfera concreta da igreja e convento em
sua totalidade. Além de que a população já reconhece seu valor de antiguidade pelo
estado mutilado, pelos usos atribuídos com eventos e visitação constante”.
Abaixo, algumas imagens
de como seria algumas das propostas de intervenção. O documento completo com as
91 páginas está disponível no link a seguir: https://drive.google.com/file/d/1pM_2mvPxZdxvQBmZArz2RO7L4Vvp-yWm/view?usp=sharing
O
SENTIMENTO EM RELAÇÃO A ESSE RESULTADO CONQUISTADO
“Sentimento de muito orgulho. Mesmo com a falta de
apoio e de incentivo. Muita alegria e muita gratidão. Um feito magnifico. Isso
é imensurável. Também é sinal que tem muito trabalho pela frente. O processo é
longo e meticuloso”. Desabafa.
VII ENCONTRO NACIONAL
DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO – USP
Ainda, em 2022, foi apresentado
no VII ENANPARQ 2022, USP, um trabalho chamado Entre a Inércia e a Repristinação: Ruínas em Extremoz e Sua Preservação
em que o autor fala sobre vários aspectos relacionados a sua pesquisa. Apresentação
disponível na íntegra no link a seguir: