Os sebos têm um importante papel na cultura e na socialização do
conhecimento. A experiência de procurar um livro já esgotado, antigo ou mesmo
raro é única. Mas há também os que vão em busca de verdadeiras caçadas em busca
do desconhecido. Outros apenas vão em busca de fazer algumas trocas, pequenos
negócios – preços mais em conta - e, por fim, compras e vendas das mais
diversas formas.
Seja como for, os Sebos (ou alfarrabista) são bem mais antigos do que
muitos imaginam. Existem na Europa, pelo menos, desde o século XVI, onde
mercadores vendiam papiros e documentos de época para estudiosos e
pesquisadores. No Brasil temos noticia dos primeiros sebos já em 1822 no Rio do
Janeiro. Com o tempo os Sebos se reinventaram e passaram a assumir certas
caracterizas que ia além do próprio livro, apesar de ter o livro como principal
objeto de trabalho. Alguns passaram a oferecer, além dos livros, obras de
artes, peças de artesanato, antiguidades, LPs e CDs ou até instrumentos
musicais. Outros preferem manter a tradição e procuram priorizar o trabalho,
exclusivamente, com o livro.
Em Natal o primeiro sebo foi o Nicodemos na década de
1930, que funcionou na Ribeira, mais precisamente na Av. Tavares de Lyra, se
mantendo em funcionamento até meados da década de 1970. Um de seus
frequentadores mais ilustres foi o historiador Câmara Cascudo e outros tantos
intelectuais da época. O local era conhecido por reunir escritores e grandes
amantes da poesia e literatura da capital potiguar. Entre tantos Sebos
existentes em Natal – todos de inestimável valor – gostaria de destacar alguns
dos mais conhecidos e tradicionais da cidade. O Sebo Cata Livros está
em funcionamento desde a década de 1960 até os dias de hoje, e presta grande
serviço a cultura potiguar, e mesmo após o triste ocorrido em fevereiro de 2011
(incêndio) os proprietários, Jácio e Vera não desanimaram e
permanecem firmes e fortes na defesa da cultura.
Muitos outros Sebos compõem a paisagem urbana da cultura potiguar. É
fundamental prestigiarmos e valorizar os que ainda tentam resgatar e manter um
pouco da cultura e do hábito da leitura em meio a uma sociedade cada vez mais
tecnológica e que ler cada vez menos. O Sebo Balalaika, do amigo
Ramos, já faz parte da paisagem da Av. Vigário Bartolomeu desde a década de
1990. Temos também o popular Sebo da Rio Branco de propriedade
do grande Ronaldo Gurgel, que além de livros e discos desenvolve um trabalho de
consciência ambiental por meio da distribuição de mudas. Desde os mais antigos
até os mais recentes, como o Seburubu de 2016, administrado
pelo amigo Eduardo Vinicius e localizado na Av. Deodoro da Fonseca, todos
exercem o nobre papel de guardiões da cultura.
Finalmente, gostaria de falar um pouco sobre o belo trabalho
desenvolvido pelo sebista e editor Abimael Silva, fundador do Sebo
Vermelho, existente desde o ano de 1985. Intelectual, incentivador cultural
e grande conhecedor da história do Rio Grande do Norte, Abimael, tem grande
protagonismo na difusão historiográfica potiguar. Pois além de livreiro,
o Sebo Vermelho também é editora (único no Brasil) e já
lançou, até agora, mais de 500 títulos. Em sua grande maioria voltados a
história, literatura e poesia do RN. Isso sem qualquer incentivo do
poder público, em nenhuma esfera, ou mesmo edital de incentivo. Famoso ponto de
encontro no centro da cidade, o Sebo reúne escritores, intelectuais,
historiadores e amantes da cultura potiguar. Entre as principais obras já
lançadas pela editora, destaque para Antologia
Poética do Rio Grande do Norte,
publicado originalmente em 1922 e reeditado pelo selo em 1993 pelo Sebo
Vermelho. Destaque também para a obra Os Americanos em Natal,
do historiador Lenine Pinto que retrata a cidade durante a Segunda Guerra
Mundial, quando se tornou uma base dos Estados Unidos e sofreu forte influência
da cultura americana.
Assim, fica nosso convite para que possamos
conhecer, visitar e, por que não, prestigiar o trabalho desses incansáveis
desbravadores da cultura e que possamos levar a cultura do livro e da leitura
para o maior número de pessoas possível.