Pensando sobre os vários regimes políticos que o Brasil já testemunhou,
sobretudo, no nosso Rio Grande do Norte, a impressão que fica é que por aqui
tudo sempre foi mais ou menos do mesmo jeito. Tomando como exemplo dois regimes
que marcaram indubitavelmente a historiografia brasileira, a Monarquia -
iniciada em 1822 após a independência de Portugal - e a República que se inicia
em 1889 com a proclamação e consequente queda do império, é impressionante
como, diferente de outras nações, por aqui a sensação é que permaneceu o mais
do mesmo.
Recorrendo as leituras de Cascudo e do Professor Almir Bueno em seus
livros; História da República no Rio Grande do Norte (1965)
e Visões de República: ideias e práticas no Rio Grande do Norte (2016),
respectivamente, é interessante observar como determinadas práticas políticas
se reproduzem e, em alguma medida se fazem presente até os nossos dias. Ou
seja, fica a impressão que em se tratando da situação dos menos favorecidos e
suas relações com as elites políticas e econômicas, o regime político vigente
não faz muita diferença. Sobre esse aspecto sempre brinco com meus alunos
quando abordo essas questões que se indagássemos alguém menos favorecido em
regiões menos afastadas do centro (a quem arrisque até mesmo pelo centro) sobre
sua opinião a respeito do novo regime que surge a partir de 1889, a República,
seria bem possível ouvirmos como resposta outra pergunta do tipo – E mudou,
foi?
O professor Almir mostra em seu texto (fruto de sua tese de doutorado)
de forma bastante didática como ocorre o processo de construção das nossas
instituições republicanas. Deixando alguns aspectos historiográficos de lado, o
que nos interessa aqui é mostrar como os discursos (geralmente disponíveis pela
imprensa da época e nas falas parlamentares) praticados por grande parte da
elite política da, até então, província do Rio Grande do Norte, se contradiz de
forma explicita com a realidade vivenciada pelos que aqui habitavam, do final
do século XIX em diante. Cascudo, por sua vez, analisa em detalhes as diversas
táticas político-eleitorais e composições de alianças (no centro e no interior)
por parte de Pedro Velho Albuquerque Maranhão na fundação do partido
republicano no RN e suas alianças com os partidos conservadores e liberais
oriundos ainda do Império.
Durante a transição do Império para a República na província do RN o
cenário era desolador. Segundo o censo de 1872 (levantado pelo Prof. Almir)
quase 90% da população era analfabeta, havia 4,7 professores para cada 10.000
habitantes e em todo o Rio Grande do Norte havia apenas 59 profissionais da
área da saúde. No manifesto do partido republicado do RN a causa de toda
miséria era atribuída ao atraso do império e oferecia aos eleitores um futuro
de progresso e prosperidade na nova República. Após as disputadas eleições de
1889 os republicanos assumem o poder e passam a moderar o tom do discurso,
culpando o antigo regime pelo atraso da situação atual. Novos acordos são
feitos para a permanência do poder das famílias tradicionais formando algumas
já conhecidas oligarquias potiguares. Segundo os autores os partidos políticos
não passavam de um ajuntamento de parentes.
Infelizmente ainda é possível observamos muitas práticas oligárquicas e
clientelistas mesmo passado mais de 130 anos da nossa República. A impressão
que fica é que por não conhecermos parte essencial de nossa história estaríamos
condenados a repeti-la indiscriminadamente. Evidente que cada processo
eleitoral é uma oportunidade de procurar participar mais das discussões e
decisões políticas, pois fora da política o caminho é abstruso.