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sábado, 15 de novembro de 2025

Sendero: A Trilha Luminosa de 40 Anos

 A Trilha Luminosa de 40 Anos – Uma Noite com SENDERO na UFRN

Por Prof. Leandro Soares, para Pedalando na História

Foi um grande privilégio para o Pedalando na História poder presenciar esse momento mais que especial. A noite de 12 de novembro viu o Auditório da Reitoria da UFRN se transformar em um portal — um lugar onde 40 anos de resistência, poesia e engajamento se encontraram. O SENDERO não nos ofereceu apenas um espetáculo musical; apresentou-nos a celebração viva de uma trilha luminosa construída ao longo de quatro décadas, inspirada em Flávio Venturini e no espírito guerrilheiro da arte.

O PRIVILÉGIO DA PASSAGEM DE SOM

Minha jornada começou antes mesmo das centenas de pessoas chegarem, vindas de vários cantos do estado. A emoção me tomou logo na passagem de som. Ali, no silêncio pré-espetáculo, senti o privilégio de parar o tempo. Conversar informalmente com os membros do Sendero, ver a calma e a entrega de Manuel de Azevedo, Lula Bulhões, Renato Savalli e Alfredo Jardim, juntamente com outros grandes músicos que se revezavam nos instrumentos, foi como receber a chave para entender a alma do grupo.

Lá estavam eles, os “feito agoristas” de 1985 que, surgidos em um ato pró-legalização, fizeram da música uma barricada contra a instrumentalização da arte. Naquele instante íntimo, a conversa transcendeu notas e afinações: era um papo sobre história, sobre a teimosia de criar uma arte que precisa ser degustada e pensada, e não apenas consumida.

UM BALANÇO EM 23 ATOS

Quando as luzes se acenderam para valer, o auditório já estava quase lotado. O show, que se propunha a fazer um balanço dessas “40 translações ao redor do sol”, cumpriu o prometido em 23 atos de pura intensidade.

O repertório navegou com maestria pelas diversas paisagens sonoras que moldaram o grupo: do Côco ao rock progressivo, passando pela força da MPB e da música latino-americana que pulsa em suas vozes e instrumentos.

Entre as canções inéditas, destacou-se a belíssima e transcendente “Moai Moai”, composição de Renato Savalli e Alfredo Jardim, que envolveu o auditório em uma atmosfera ritualística, quase etérea.

Ouvir composições autorais de Manuel de Azevedo, como “Sabra e Chatila”, foi um momento de profunda emoção e engajamento: uma belíssima homenagem ao povo palestino, contada com intensidade e sensibilidade. O momento contou com o apoio e a presença de uma representação do povo palestino, tornando-o marcante e inesquecível. Já a eletrizante “Mareada” nos conduziu novamente às lutas defendidas pelo Sendero: a causa latino-americana, a defesa dos povos originários e as pautas sociais e ambientais.

Sentimos, também, a homenagem viva aos amigos-irmãos já perdidos — uma celebração que carregava a dor e a beleza de criar memórias indeléveis juntos. O medley de abertura, com referências a Itamar Correia e Geraldo Espíndola, já anunciava que a noite seria um abraço coletivo em canções que nos definem.

O OLHAR DO PÚBLICO: O ESPELHO DA EMOÇÃO 

Mas, se a performance do SENDERO era intensa, a reação do público era a verdadeira crônica. O que mais me tocou foi a profunda conexão estampada no olhar de cada espectador. Em momentos como “Pôr do Sol na Pedra do Rosário”, canção que carrega o DNA potiguar em sua essência, vi rostos marcados pelo tempo e pela vida.

Entre esses rostos, destacava-se a presença marcante da cidade de Extremoz. Colegas professores, amigos e admiradores da vasta obra de Manuel de Azevedo vieram prestigiar o mestre, cuja arte tem conquistado respeito e admiração crescentes. A presença de Extremoz ecoava feito um coro silencioso: “Extremoz presente!”

Não eram aplausos vazios; eram suspiros, olhares fixos na eternidade do palco e, sim, lágrimas. Lágrimas que brotavam porque aquela música — aquela “Resistência”, também no repertório — contava a história delas, de seus sonhos adiados e da persistência da fé. Eram lágrimas de quem sente a arte cumprir seu papel mais nobre: despertar consciências e conquistar corações.

PEDALANDO NA HISTÓRIA 

Foi um testemunho de que a música, quando honesta e engajada, não envelhece. A trilha do SENDERO, nascida em tempos de ditadura e celebrada em um palco universitário, provou ser mais que memorável: é fundamental.

E, para o Pedalando na História, fica o registro: a história cultural do Rio Grande do Norte ganhou mais um capítulo brilhante, forjado em 40 anos de arte que inspira e transforma.

(Leandro Soares)



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