Escritora Ana Cláudia Trigueiro
O Pedalando na História
bateu um papo com a escritora e psicóloga, Ana Cláudia Trigueiro, autora de uma
dezena de obras publicadas, livros premiados e adotados em diversas escolas,
bem como obras presentes em bibliotecas de todo o estado.
Entre seus livros de maior
sucesso está o romance O Mistério do Verde Nasce de 2018 e que já esta
chegando na terceira edição. Uma obra ambientada no vale do Cearamirim na segunda metade do
século XIX. Sobre esse trabalho que tem presença garantida nas escolas e nas
principais feiras literárias do estado, Ana Cláudia, lembra que “Foi uma paixão desde o primeiro instante. Lembro que se iniciou no exato
momento em que vi o túmulo de Emma Campbell, a inglesa que está enterrada no
alto da colina, por trás da casa-grande do engenho Verde Nasce. A lápide com inscrições
em inglês, o enigma sobre quem ela foi, tudo isso me seduziu de uma forma que
mal consigo descrever”.
Um ponto marcante é descobrir que a protagonista, na verdade, é a
avó materna da autora. Recentemente li a obra pela terceira vez. Inclusive, as
duas edições. Foi uma experiência literária completa. Na obra são tratados, em
contexto, temas como Revolução Industrial, a escravidão no Brasil, a
diversidade religiosa e a condição feminina nos séculos XIX e XX.
Durante nosso bate papo – a escritora disse que os livros foram
seus primeiros brinquedos. Eles sempre estiveram por perto. Como psicóloga, Ana Cláudia, não esconde sua
admiração por filósofos considerados Existencialistas, como Sartre, Nietzsche, Soren Kierkegaard. Entre outros. Além
desses, pensadores como Sigmund Freud e André Comte Sponville influenciaram
profundamente sua formação humanística.
Sobre sua
motivação para a escrita, explica que precisa ter alguma emoção como ponto de
partida. Positiva ou negativa, não importa. Mas não acredita ser possível
produzir literatura a partir da indiferença. Literatura é de outra ordem para mim. É prazer, convocação emocional, explica.
Confira
um bate papo que tivemos com a escritora, Ana Cláudia:
SUA
HISTÓRIA COM A PSICOLOGIA E COM A LITERATURA
A escrita
profissional aconteceu na minha vida por causa da leitura. Sou, antes de tudo,
uma leitora aficionada. Acredito que seja assim com a maioria dos escritores.
Meus pais nos
incentivavam e se esforçavam para que tivéssemos livros em casa. Como papai
vendia desde enciclopédias até literatura infantil, sempre tive clássicos,
contos de fadas e lendas brasileiras na nossa estante. Os livros foram os
primeiros brinquedos. Depois passei a frequentar bibliotecas públicas e
pegar emprestado tudo o que me interessava.
Sobre a Psicologia,
sempre fui curiosa a respeito do comportamento das pessoas. Porque elas agiam e
reagiam de determinada maneira, quais suas motivações para a alegria, tristeza
e raiva.
O
QUE A LITERATURA PODE FAZER PELO SER HUMANO
A Literatura torna as
pessoas melhores. Sou convicta disso. Sem a poesia, o que seríamos? Quando leio
Cora Coralina, Adélia Prado, Mário Quintana, Auta de Souza e José de Castro, a
vida me parece encantadora! Florbela Espanca e Jeanne Araújo despertam a mulher
apaixonada que há mim. Cecília Meireles remete à menina doce e curiosa que fui.
Nos últimos tempos, Conceição Evaristo, Ailton Krenak, Sérgio Vaz e a potiguar
Ana Paula Campos, foram experiências literárias transformadoras. Sou uma
leitora menos alienada por causa deles.
Charles Dickens, que
li na adolescência, me trouxe um panorama realista do estado, da sociedade e
das instituições religiosas. Isso contribuiu com a minha formação. Sem Dickens,
talvez eu continuasse a enxergar a vida com a utopia da infância.
ORIGEM
DO LIVRO “MISTÉRIO DO VERDE NASCE”
O Mistério do Verde
Nasce vai entrar em sua 3ª edição agora. Foi uma paixão desde o primeiro
instante. Lembro que se iniciou no exato momento em que vi o túmulo de Emma
Campbell, a inglesa que está enterrada no alto da colina, por trás da
casa-grande do engenho Verde Nasce. A lápide com inscrições em inglês, o enigma
sobre quem ela foi, tudo isso me seduziu de uma forma que mal consigo
descrever.
A paixão continuou
por cada página escrita e reescrita. Foram meses de madrugadas caminhando pelo
belíssimo vale do Ceará-Mirim no começo do século XX, ou viajando
imaginariamente para a Inglaterra durante a revolução industrial. O longo tempo
na companhia dos personagens os tornaram tão queridos quanto amigos. E
Ceará-Mirim, que eu só sabia ter sido o lugar onde minha avó passou a infância,
virou um local de afeto. A cidade do RN querida do coração.
O QUE MUDA APÓS ESSE RECONHECIMENTO DO
SEU TRABALHO
É muito satisfatório ver meu trabalho
chegar aos leitores. A gente pensa que os escritores dão vida aos livros, mas é
o leitor quem faz isso. Uma história, presa em um livro empoeirado guardado na
estante, é como se estivesse morta e enterrada. Como minhas obras vão para as
escolas, as professoras entram em contato comigo e isso é bem legal! São trocas
prazerosas demais! Entre elas ir até as instituições educacionais, às
bibliotecas públicas, feiras de livros... e conversar com os adolescentes.
As premiações fazem
parte da rotina de uma escritora profissional. Ocasionalmente participamos de
concursos, editais, prêmios literários e, às vezes, a gente dá sorte e ganha
algo. É bacana e ajuda a chancelar a qualidade do que escrevemos.
MAIORES DESAFIOS PARA OS ESCRITORES
HOJE
Além das questões econômicas,
há o desafio de formar novos leitores no país, tendo em vista que, além
de um problema histórico, agora nos deparamos com as tecnologias digitais: as
distrações e o tempo que ela toma das pessoas em todas as faixas etárias. Ler
histórias e poemas, mesmo que, de maneira virtual, não parece tão interessante
quanto jogar games ou assistir vídeos engraçados nas redes sociais, por
exemplo. Por fim, as I.A.s trazem uma questão ética que chegará para todas as
profissões: a de que podemos ser substituídos por máquinas que dominam, de
maneira incrível, a técnica e, principalmente, a magia da escrita.