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quarta-feira, 12 de junho de 2024

ANA CLÁUDIA TRIGUEIRO: LITERATURA COMO CONVOCAÇÃO EMOCIONAL

 

                                                       Escritora Ana Cláudia Trigueiro

O Pedalando na História bateu um papo com a escritora e psicóloga, Ana Cláudia Trigueiro, autora de uma dezena de obras publicadas, livros premiados e adotados em diversas escolas, bem como obras presentes em bibliotecas de todo o estado.

Entre seus livros de maior sucesso está o romance O Mistério do Verde Nasce de 2018 e que já esta chegando na terceira edição. Uma obra ambientada no vale do Cearamirim na segunda metade do século XIX. Sobre esse trabalho que tem presença garantida nas escolas e nas principais feiras literárias do estado, Ana Cláudia, lembra que “Foi uma paixão desde o primeiro instante. Lembro que se iniciou no exato momento em que vi o túmulo de Emma Campbell, a inglesa que está enterrada no alto da colina, por trás da casa-grande do engenho Verde Nasce. A lápide com inscrições em inglês, o enigma sobre quem ela foi, tudo isso me seduziu de uma forma que mal consigo descrever”.

Um ponto marcante é descobrir que a protagonista, na verdade, é a avó materna da autora. Recentemente li a obra pela terceira vez. Inclusive, as duas edições. Foi uma experiência literária completa. Na obra são tratados, em contexto, temas como Revolução Industrial, a escravidão no Brasil, a diversidade religiosa e a condição feminina nos séculos XIX e XX.

Durante nosso bate papo – a escritora disse que os livros foram seus primeiros brinquedos. Eles sempre estiveram por perto.  Como psicóloga, Ana Cláudia, não esconde sua admiração por filósofos considerados Existencialistas, como Sartre, Nietzsche, Soren Kierkegaard. Entre outros. Além desses, pensadores como Sigmund Freud e André Comte Sponville influenciaram profundamente sua formação humanística.

Sobre sua motivação para a escrita, explica que precisa ter alguma emoção como ponto de partida. Positiva ou negativa, não importa. Mas não acredita ser possível produzir literatura a partir da indiferença. Literatura é de outra ordem para mim. É prazer, convocação emocional, explica. 

Confira um bate papo que tivemos com a escritora, Ana Cláudia:

SUA HISTÓRIA COM A PSICOLOGIA E COM A LITERATURA

A escrita profissional aconteceu na minha vida por causa da leitura. Sou, antes de tudo, uma leitora aficionada. Acredito que seja assim com a maioria dos escritores. 

Meus pais nos incentivavam e se esforçavam para que tivéssemos livros em casa. Como papai vendia desde enciclopédias até literatura infantil, sempre tive clássicos, contos de fadas e lendas brasileiras na nossa estante. Os livros foram os primeiros brinquedos. Depois passei a frequentar bibliotecas públicas e pegar emprestado tudo o que me interessava.

Sobre a Psicologia, sempre fui curiosa a respeito do comportamento das pessoas. Porque elas agiam e reagiam de determinada maneira, quais suas motivações para a alegria, tristeza e raiva.

O QUE A LITERATURA PODE FAZER PELO SER HUMANO

A Literatura torna as pessoas melhores. Sou convicta disso. Sem a poesia, o que seríamos? Quando leio Cora Coralina, Adélia Prado, Mário Quintana, Auta de Souza e José de Castro, a vida me parece encantadora! Florbela Espanca e Jeanne Araújo despertam a mulher apaixonada que há mim. Cecília Meireles remete à menina doce e curiosa que fui. Nos últimos tempos, Conceição Evaristo, Ailton Krenak, Sérgio Vaz e a potiguar Ana Paula Campos, foram experiências literárias transformadoras. Sou uma leitora menos alienada por causa deles.

Charles Dickens, que li na adolescência, me trouxe um panorama realista do estado, da sociedade e das instituições religiosas. Isso contribuiu com a minha formação. Sem Dickens, talvez eu continuasse a enxergar a vida com a utopia da infância.

ORIGEM DO LIVRO “MISTÉRIO DO VERDE NASCE”

O Mistério do Verde Nasce vai entrar em sua 3ª edição agora. Foi uma paixão desde o primeiro instante. Lembro que se iniciou no exato momento em que vi o túmulo de Emma Campbell, a inglesa que está enterrada no alto da colina, por trás da casa-grande do engenho Verde Nasce. A lápide com inscrições em inglês, o enigma sobre quem ela foi, tudo isso me seduziu de uma forma que mal consigo descrever. 

A paixão continuou por cada página escrita e reescrita. Foram meses de madrugadas caminhando pelo belíssimo vale do Ceará-Mirim no começo do século XX, ou viajando imaginariamente para a Inglaterra durante a revolução industrial. O longo tempo na companhia dos personagens os tornaram tão queridos quanto amigos. E Ceará-Mirim, que eu só sabia ter sido o lugar onde minha avó passou a infância, virou um local de afeto. A cidade do RN querida do coração.

O QUE MUDA APÓS ESSE RECONHECIMENTO DO SEU TRABALHO

É muito satisfatório ver meu trabalho chegar aos leitores. A gente pensa que os escritores dão vida aos livros, mas é o leitor quem faz isso. Uma história, presa em um livro empoeirado guardado na estante, é como se estivesse morta e enterrada. Como minhas obras vão para as escolas, as professoras entram em contato comigo e isso é bem legal! São trocas prazerosas demais! Entre elas ir até as instituições educacionais, às bibliotecas públicas, feiras de livros... e conversar com os adolescentes.

As premiações fazem parte da rotina de uma escritora profissional. Ocasionalmente participamos de concursos, editais, prêmios literários e, às vezes, a gente dá sorte e ganha algo. É bacana e ajuda a chancelar a qualidade do que escrevemos.

MAIORES DESAFIOS PARA OS ESCRITORES HOJE

Além das questões econômicas, há o desafio de formar novos leitores no país, tendo em vista que, além de um problema histórico, agora nos deparamos com as tecnologias digitais: as distrações e o tempo que ela toma das pessoas em todas as faixas etárias. Ler histórias e poemas, mesmo que, de maneira virtual, não parece tão interessante quanto jogar games ou assistir vídeos engraçados nas redes sociais, por exemplo. Por fim, as I.A.s trazem uma questão ética que chegará para todas as profissões: a de que podemos ser substituídos por máquinas que dominam, de maneira incrível, a técnica e, principalmente, a magia da escrita. 

 

 

 

 

 

 

 

Um comentário:

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