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quarta-feira, 27 de março de 2024

PROJETO DE PRESERVAÇÃO DAS RUÍNAS DE EXTREMOZ É SELECIONADO PELO IPHAN

 

                                                      Ramon Bezerra - Arquiteto e Urbanista 

No inicio do mês foi divulgado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) o resultado do Novo PAC Seleções que contemplou mais de 100 projetos de preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro. Extremoz foi um dos selecionados. Noticia completa disponível no link: https://www.gov.br/iphan/pt-br/assuntos/noticias/novo-pac-selecoes-contempla-105-projetos-de-restauracao-do-patrimonio-cultural-do-brasil

Para concorrerem, os projetos deviam comprovar a relevância, o impacto e a viabilidade técnica para a preservação, promoção e valorização do Patrimônio Cultural. O objetivo foi atender projetos de todo o País, que procurem promover o desenvolvimento cultural e permitam a apropriação dos espaços pela população.

Para compreender melhor o que tudo isso significa e entender as próximas etapas que devem ser seguidas, assim como algumas questões de caráter mais técnico e burocrático, conversamos com o arquiteto e urbanista, Ramon Bezerra, autor do projeto selecionado, e que gentilmente conversou conosco e explicou de forma didática e bastante detalhada todo o processo.

Ramon, Atualmente é pesquisador pelo programa de pós-graduação em arquitetura e urbanismo da UFRN. Inicialmente, explicou que o projeto apresentado ao IPHAN é fruto do seu trabalho de conclusão de curso junto ao departamento de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal do Semi-Árido (UFERSA), Campus Pau dos Ferros-RN. O trabalho intitulado Manifesto face a inércia: restauro alusivo das ruínas da antiga igreja de São Miguel Arcanjo e convento Jesuíta na cidade de Extremoz/R. Propõe uma intervenção arquitetônica de restauro alusivo na área arqueológica da antiga igreja de São Miguel Arcanjo e do convento Jesuíta na cidade de Extremoz/RN. Foi apresentado e aprovado no final do ano de 2022 com orientação da Professora Dra. Monique Lessa. O trabalho completo está disponível no link a seguir: https://repositorio.ufersa.edu.br/items/98e0e85c-e8a6-4954-879a-a23476939de7

 

SUA RELAÇÃO COM EXTREMOZ

      Explicou ter uma relação íntima com Extremoz. Local onde cresceu e guarda grande parte de suas memórias afetivas. Sobre o interesse em pesquisar o patrimônio histórico, recorda que, ainda jovem, sempre chamou sua atenção a forma como a história de Extremoz era negligenciada pela própria cidade. O interesse pela arquitetura veio da influência do seu pai, pedreiro. . “Reproduzindo os esquemas de plantas que ele fazia”. Disse.


A IDEIA DE TRANSFORMAR O TRABALHO EM PROJETO PARA O IPHAN

Explicou que após apresentar a trabalho para vários órgãos e autoridades da cidade como a prefeitura e a igreja matriz houve um interesse em utiliza-lo como uma proposta de restauro junto aos órgãos de defesa do patrimônio histórico. O primeiro passo foi solicitar o tombamento das ruínas da igreja e do convento dos jesuítas em nível federal para aumentar as chances de ocorrer, de fato, alguma intervenção de caráter arqueológico e arquitetônico. Vale lembrar que atualmente só existe o tombamento em nível estadual, feito ainda em 1990. (Onde os recursos e as equipes de trabalho são mais limitados). Segue imagem da proposta de tombamento cadastrada de tombamento em novembro de 2023, junto ao IPHAN.

                                            Fonte: Iphan.gov.br 

        Em seguida, Ramon, explica que surgiu a oportunidade de submeter a proposta para concorrer ao chamamento público do IPHAN, no Novo PAC Seleções do governo federal e o resultado positivo foi motivo de alegria e orgulho pela trajetória e pelo trabalho realizado.

O QUE ACONTECE AGORA

         Falando, mais especificamente do projeto executivo, o que aconteceu foi a seleção apenas da primeira etapa. Ou seja, o que de fato será feita nas Ruínas da antiga igreja vai depender de estudos realizados por equipe de especialistas multidisciplinar, como arqueólogos, engenheiros, e outros. Uma vez que se trata de uma tarefa minuciosa e interdisciplinar. No entanto as possibilidades de intervenção já estão delineadas pela proposta apresentada. As etapas principais apontadas são:

1 -  Avaliação do potencial Arqueológico (durante a elaboração do

projeto de arquitetura);

2 - Pesquisa Arqueológica (facultativa, a depender da indicação da

primeira etapa);

3 - A utilização dos vestígios (se serão incorporados ao projeto ou

não):

    Os valores contemplados, referente a realização da primeira etapa, estão disponíveis na plataforma do Tranferegov.br de forma pública;

                             Fonte: Transferegov.br

     Sobre um processo de preservação, de acordo com (OLIMPIO, 2020, p. 279) é necessário levantar quatro questões fundamentais: “Por que preservar?”, “Para quem preservar?”, “O que preservar?” e “Como preservar?”. Explica. Nessa medida, Ramon destaca que um projeto dessa magnitude não deve olhar apenas para o aspecto do turismo. Embora seja, sim, um aspecto importante. Ou seja, “o próprio monumento carrega uma carga de valores. A população precisa se apropriar desses valores”. Afirma que “Para além do turismo devemos fomentar o local, a cultura, a identidade e a educação patrimonial. É necessário disseminar a história e a cultura da cidade. Mostrar a riqueza histórica da cidade para o mundo. A educação patrimonial é, sem dúvida, o primeiro passo para esse fomento da identidade local ou da significância cultural”. Disse.

       Citando, Giovane Carbonara, teórico de restauro critico conservativo criativo, linha que se associa. “A restauração é uma questão de equilíbrio e de medida, é mais escuta do que fala ou proposição” É necessário entender o que o bem tem a dizer para podermos intervir e propor algo.

No Projeto intitulado “PROPOSTA PARA PROTEÇÃO E GESTÃO DAS RUÍNAS DA ANTIGA IGREJA DE SÃO MIGUEL ARCANJO E CONVENTO JESUÍTA NA CIDADE DE EXTREMOZ/RN”. São feitas considerações importantes acerca da necessidade, ou não, de uma reconstrução total do bem cultural: “Quando voltamos para as áreas arqueológicas, sendo definidas como testemunho histórico do trabalho humano, se torna pertinente que a intervenção reafirme os valores do bem e auxiliem em sua perpetuação e salvaguarda. Quando conferidas ao restauro arqueológico, tais ações se mostram vantajosas na incorporação da apresentação dos vestígios, a fim de facilitar a leitura e compreensão dos visitantes. Sem haver necessidade de reconstrução.” (FERNANDES, 2023, p. 54)

            O documento conclui que não haveria uma real necessidade de uma reconstrução total do bem cultural, mas intervenções de caráter pontual. Como esclarece o autor “No entanto, não há razões para isso, além de que o reconhecimento como patrimônio cultural foi realizado em seu estado arruinado. Não havendo memória afetiva urgente a ser rememorada ou indicações técnicas que mencionem a atmosfera concreta da igreja e convento em sua totalidade. Além de que a população já reconhece seu valor de antiguidade pelo estado mutilado, pelos usos atribuídos com eventos e visitação constante”.

Abaixo, algumas imagens de como seria algumas das propostas de intervenção. O documento completo com as 91 páginas está disponível no link a seguir: https://drive.google.com/file/d/1pM_2mvPxZdxvQBmZArz2RO7L4Vvp-yWm/view?usp=sharing  





O SENTIMENTO EM RELAÇÃO A ESSE RESULTADO CONQUISTADO

“Sentimento de muito orgulho. Mesmo com a falta de apoio e de incentivo. Muita alegria e muita gratidão. Um feito magnifico. Isso é imensurável. Também é sinal que tem muito trabalho pela frente. O processo é longo e meticuloso”. Desabafa.

VII ENCONTRO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO – USP

Ainda, em 2022, foi apresentado no VII ENANPARQ 2022, USP, um trabalho chamado Entre a Inércia e a Repristinação: Ruínas em Extremoz e Sua Preservação em que o autor fala sobre vários aspectos relacionados a sua pesquisa. Apresentação disponível na íntegra no link a seguir:







 


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